As negociações entre governo e oposição na Bolívia chegaram a um impasse neste domingo, o quarto dia de diálogo após o pior período de crise vivido pelo país na gestão do presidente Evo Morales.
Morales propôs um acordo para que o Congresso Nacional aprove antes do dia 1º de outubro a data para o referendo que vai ratificar ou não a nova constituição do país, aprovada no fim do ano passado sem a participação da oposição.
Mas os quatro prefeitos (governadores) da oposição pediram mais tempo para dialogar nas mesas de negociação formadas em Cochabamba, no centro do país.
Foi a primeira diferença entre as partes desde que começou o chamado "diálogo nacional", que conta com presença de observadores internacionais, ou "testemunhas", como prefere o governo.
Constituição
A carta magna é o assunto mais polêmico nesta rodada de discussões, que começou na última quinta-feira.
O presidente Morales e o vice Alvaro García Linera já afirmaram, mais de uma vez, que a idéia é discutir apenas o capítulo das autonomias – uma das demandas da oposição.
Com isso, não se tocaria em outros temas polêmicos para a oposição como a reforma agrária.
"O governo já disse que pode fazer concessões na Constituição em relação às autonomias e nada mais. Se o governo abrir a discussão para outros itens, então se derrubará a revolução social", disse o assessor jurídico do governo Morales, Eusébio Gironda, em entrevista à rádio Fides, de La Paz.
Assembléia da ONU
Morales viaja para Nova Iorque, nesta segunda-feira, onde participará da Assembléia Anual da ONU (Organização das Nações Unidas) e pretendia, segundo a imprensa local, chegar a um entendimento com a oposição antes do embarque.
Nas últimas horas, o representante da oposição, o governador de Tarija, Mario Cossío, disse: "Não devemos ter pressa. São discussões profundas que pretendem pacificar o país. Precisamos de mais tempo. E não podemos votar a nova constituição às cegas".
Em um comunicado, os governadores da oposição informaram que as mesas que discutem as autonomias dos departamentos (estados) e a arrecadação do setor petroleiro vão continuar e os resultados deverão ser divulgados na quinta-feira, dia 25.
No texto, eles recordam ainda que o pré-acordo, assinado na semana passada com o governo, prevê um prazo de um mês, no mínimo, para a definição da data do referendo sobre a carta magna.
Autonomias
O porta-voz da Presidência da Bolívia, Ivan Canelas, disse que na proposta apresentada neste domingo por Morales à oposição está previsto avaliar o sistema de autonomias aprovado nas eleições realizadas nos estados opositores -Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando-, contra a vontade do presidente.
Além destes, ele também incluiu Chuquisaca, que apesar de não ter realizado as votações, quer a mesma autonomia política, financeira e administrativa do governo central.
O governador de Pando é o único ausente entre os nove governadores do país. Leopoldo Fernández, que governava o estado até a semana passada, está preso, acusado de ser o responsável pelas mortes de pelo menos 16 pessoas e ainda por ter "desobedecido" o estado de sítio decretado pelo governo Morales no lugar, vizinho ao Acre.
'Golpe civil'
A postura da oposição, neste domingo, levou o vice-ministro de Coordenação com os Movimentos Sociais, Sacha Lllorenti, a dizer que a oposição "não tem disposição para acabar com o conflito" e pretende continuar com o "golpe civil" que teria provocado a onda de violência das três últimas semanas.
"Golpe civil" também foi a definição que Morales usou ao falar da situação de seu país durante reunião da Unasul (União das Nações da América do Sul), em Santiago, no Chile.
Mas o encontro entre governo e oposição também já registrou o primeiro entendimento. Eles concordaram, no sábado, que os impostos petroleiros devem garantir o pagamento de um benefício aos aposentados com mais de 60 anos, como o governo central vinha fazendo. BBC Brasil
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