terça-feira, 23 de setembro de 2008

Lula na ONU: é preciso controle das atividades financeiras

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Nova York - A crise financeira global exige mecanismos de prevenção, controle e total transparência das atividades financeiras, disse hoje o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao abrir os debates da 63ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). "Uma crise de tais proporções não será superada com medidas paliativas", acrescentou.

"Os organismos supranacionais carecem de autoridade e instrumentos para coibir a anarquia especulativa", disse, destacando a necessidade de "reconstruí-los em bases completamente novas".

Lula disse ainda que o "ônus da cobiça desenfreada não pode cair impunemente sobre todos". Ele acrescentou que "a economia é séria demais para ficar nas mãos dos especuladores. A ética deve valer também na economia, emendou o presidente no início de seu discurso, repleto de observações duras sobre a crise financeira global.

Segundo ele, o caráter global da crise demanda que as soluções que venham a ser adotadas deverão ser também globais, "tomadas em espaços multilaterais legítimos e confiáveis, sem imposições". Da ONU, disse ele, deve partir a "convocação para uma resposta vigorosa às ameaças que pesam sobre nós".

Muro de Berlim

O Muro de Berlim caiu, mas outros muros foram construídos, afirmou o presidente Lula. “Um suposto nacionalismo populista, que alguns pretendem identificar e criticar no sul do mundo é praticado sem constrangimento nos países ricos”, criticou.

“Muitos que pregam a livre circulação de mercadorias e capitais são os mesmos que impedem a livre circulação de homens e mulheres, com argumentos nacionalistas, e até fascistas, que nos fazem evocar, temerosos, tempos que pensávamos superados”, ponderou.

Lula acrescentou no discurso a palavra “fascista” em substituição à palavra “racista” que estava prevista no discurso impresso, distribuído na ONU.

“As crises financeira, alimentar, energética, ambiental e migratória, para não falar das ameaças à paz em tantas regiões, demonstram que o sistema multilateral deve adequar-se aos desafios do século XXI”, acrescentou. A queda do Muro de Berlim, observou Lula, foi “entendida como possibilidade de construir mundo de paz, livre dos estigmas da Guerra Fria”.

Biocombustíveis

“A tentativa de associar alta dos alimentos à difusão dos biocombustíveis não resiste à analise objetiva da realidade”, acrescentou o presidente. “O Brasil não tem fugido a suas responsabilidades. Nossa a matriz energética é crescentemente limpa”, completou. A inflação de alimentos, observou, está presente nos aumentos ?consideráveis? do petróleo, “que incidem pesadamente sobre o custo de fertilizantes e transporte”.

O presidente observou que a experiência brasileira comprova que o etanol de cana-de-açúcar e a produção de biodiesel diminuem dependência de combustíveis fósseis, criam emprego, regeneram terras deterioradas e “são plenamente compatíveis com a expansão da produção de alimentos”.

Novo alinhamento

Ao citar os países da América do Sul e Caribe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que aos poucos vai sendo descartado o "velho alinhamento conformista dos países do sul aos centros tradicionais". "Essa nova atitude não conduz, no entanto, a uma postura de confrontação", enfatizou.

"Pelo diálogo direto, sem intermediação das grandes potencias, os países em desenvolvimento têm se credenciado a cumprir um novo papel no desenho de um mundo multipolar". "Está em curso a construção de uma nova geografia política, econômica e comercial no mundo", completou.

Conselho de Segurança

Ao abordar o tema Conselho de Segurança (CS) da ONU, Lula destacou que a "força dos valores deve prevalecer sobre valor da força". Ao citar que há 15 anos a ONU discute a reforma do conselho, Lula observou que a estrutura vigente do CS "responde cada vez menos aos desafios do mundo contemporâneo". "Sua representação distorcida é obstáculo ao multilateralismo que almejamos".

O presidente disse considerar "auspiciosa" a decisão da Assembléia da ONU e iniciar "prontamente negociações relativas à reforma do Conselho de Segurança". O multilateralismo deve guiar os membros da ONU também em problemas de aquecimento global, acrescentou. Agência Estado


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