segunda-feira, 5 de maio de 2008

MPF vai apurar vazamento de informações na Operação Santa Tereza

O Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo vai investigar o vazamento de informações da Operação Santa Tereza, deflagrada pela Polícia Federal há duas semanas e que investiga o envolvimento de treze pessoas em denúncias de prostituição, tráfico de pessoas, lavagem de dinheiro e fraudes em financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Hoje (05), a procuradora da República Adriana Scordamaglia disse que pediu a instauração de inquérito policial para “apurar de onde saiu esse vazamento, porque as pessoas que estavam sendo monitoradas souberam dessa investigação”.

Até o momento, o MPF abriu processo contra 13 pessoas: Ricardo Tosto, José Carlos Guerreiro, Marcos Vieira Mantovani, João Pedro de Moura, Celso de Jesus Murad, Manuel Fernandes Bastos Filho, Washington Domingos Napolitano, Edson Luis Napolitano, Boris Timoner, Wilson de Barros Consani Junior, Jamil Issa Filho, Jack Rubinstein Leiderman e Marcelo Rocha de Miranda.

Quatro deles ainda continuam em prisão temporária, sem prazo definido. São eles: José Carlos Guerreiro, Marcos Vieira Mantovani, João Pedro de Moura e Celso de Jesus Murad. O pedido de prisão contra o advogado e conselheiro do BNDES Ricardo Tosto, foi negado pelo juiz substituto Márcio Ferro Catapani, da 2ª Vara Federal Criminal de São Paulo. Já Manuel Fernandes Bastos Filho, dono da casa de prostituição We e de uma construtora, considerado o articulador da organização criminosa, continua foragido.

Para o MPF, a prisão preventiva dos acusados é necessária porque eles podem atrapalhar as investigações, com ameaças contra testemunhas e destruição de provas. “O motivo de pedido de prisão preventiva do advogado Ricardo Tosto foi exatamente a conveniência da instrução criminal, porque havia sérias suspeitas, e ainda há, de que ele poderá, de alguma forma, atrapalhar a tramitação do processo, assim como existem provas documentais de que esta era sua intenção: acabar com as investigações da Polícia Federal”.

A Operação Santa Tereza teve início com uma investigação sobre a casa de prostituição We, localizada no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Nas interceptações telefônicas, autorizadas judicialmente, surgiu a informação de que a organização criminosa também atuava em um esquema de fraudes de financiamentos junto ao BNDES, utilizando-se de pessoas com influência política junto ao banco. De acordo com o MPF, as pessoas que se aproveitavam da influência política eram o advogado Ricardo Tosto, também conselheiro do BNDES pela Força Sindical, e João Pedro de Moura, um assessor da central sindical.

Nas investigações da Polícia Federal, há imagens de João Pedro de Moura gravadas na Câmara dos Deputados, em Brasília, no momento em que ele deixou o gabinete do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Para a procuradora Adriana Scordamaglia, “o transitar pelos gabinetes não significa nada, mas no contexto em que ocorreu esse trânsito e com as provas da investigação, fica evidenciada a sua participação”.

As investigações policiais, baseadas em monitoramento telefônico e documentos como planilhas, e-mails, notas fiscais e material manuscrito pelos acusados, comprovaram fraudes em três financiamentos: um, para obras da Prefeitura de Praia Grande, na Baixada Santista, totalizando R$ 124 milhões, e dois para a expansão da rede de lojas Marisa, de R$ 220 milhões.

Segundo o MPF, na Praia Grande o desvio dos recursos do BNDES foi conduzido pela empreiteira Termaq, pertencente a José Carlos Guerreiro, e que iria realizar as obras na cidade. Para justificar as retiradas no caixa da empresa foram apresentadas notas frias de uma consultora chamada Progus, pertencente a Marcos Vieira Mantovani. A intermediação entre a prefeitura e os acusados era feita pelo assessor da prefeitura Jamil Issa Filho.

Já no caso das lojas Marisa, o dinheiro foi pago à Progus, que também emitiu notas frias de prestação de contas. Os valores foram repassados a Boris Timoner, consultor da Marisa.

A casa de prostituição WE era gerenciada por Bastos Filho, Murad e pelos irmãos Washington Domingos Napolitano e Edson Luis Napolitano, e servia para a lavagem do dinheiro obtido junto aos financiamentos do BNDES. O coronel reformado da Polícia Militar Wilson de Barros Consani Junior utilizava-se de sua influência para manter a casa de prostituição aberta, pagando propinas para que funcionários públicos não a fiscalizassem. Leiderman era o responsável pelo tráfico internacional de mulheres.

De acordo com o Ministério Público, por haver suspeitas de participação do prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão, e do deputado federal Paulo Pereira da Silva - o Paulinho da Força Sindical -, que gozam de foro privilegiado, também foram remetidas cópias dos processos ao Tribunal Regional Federal (TRF) e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Uma investigação dos dois suspeitos só poderia ser feita com autorização dos dois órgãos. Agência Brasil
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