quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Opinião - Lula mantém silêncio sobre anistia, faz demagogia com estudantes sobre culto a heróis, mas revanchismo continua

Jorge Serrão

Conforme previsto, o chefão Lula da Silva adotou ontem seu estilo “morde e assopra” com os militares, aproveitando sua agenda para fazer média com estudantes que se notabilizam menos por estudar que fazer demagogia barata sobre a “dita-dura”que sequer conhecem direito. Os militares terão de agüentar, calados, à realização do Seminário internacional “Direito à Memória e à Verdade”, organizado pela Presidência da República, e confirmado para o próximo dia 18, em São Paulo. A luta revanchista continua...

Ontem, no Rio de Janeiro, durante a assinatura do projeto de lei em que a União reconhece a responsabilidade pela destruição do prédio da UNE, incendiado pós-64, Lula defendeu a estranha tese de que a sociedade aprenda a cultuar seus "heróis" e não busque apenas incriminar os "vilões" da história. Com os chefes militares e oficiais generais promovidos, mais cedo, no Palácio do Planalto, Lula manteve silêncio sobre a polêmica da tortura e a revisão da lei de anistia, que os comandantes deram por encerrada.

Na UNE, Lula não falou diretamente sobre a posição do desgoverno em relação à punição para quem torturou durante a ditadura militar. Apenas mandou um recado: “Queria dizer que precisamos tratar um pouco melhor os nossos mortos. Toda vez que falamos dos estudantes, dos operários que morreram, nós falamos xingando alguém que os matou. Quando na verdade, esse martírio nunca vai acabar se a gente não aprender a transformar nossos mortos em heróis, não em vítimas, como a gente costuma tratar, várias vezes”.

Lula reclamou que os brasileiros têm dificuldade em valorizar os seus mortos e o último herói para o povo brasileiro foi Tiradentes. “Imagina se a frente sandinista ficasse lamentando todo mundo que o (Anastácio) Somoza matou. Imagina se o Fidel lamentasse todos os que o (Fulgêncio) Batista matou. Não. É fazer com que essas pessoas que tombaram lutando por alguma coisa que acreditavam se transformem em heróis. Que sejam símbolos da nossa luta, que na sede da UNE tenham fotografias e a histórias dos que morreram. Por que nós os transformamos apenas em vítimas? Não contamos a história, portanto ninguém sabe quem é”.

E o chefão prosseguiu com a demagogia do Boi Tatá: “O Brasil é um País que não tem heróis. Quando perguntam para nós, só lembramos de Tiradentes. Porque os mesmos que representavam a coroa portuguesa, que o mataram, trinta anos depois o transformaram em herói, com medo de que o povo o transformasse. Nós precisamos cultuar nossos heróis. Nós somos uma pátria que, se perguntar aqui, ninguém sabe o nome de um herói. Vai lembrar o nome de Tiradentes. E o Brasil tem muitas lutas”.

Em Brasília, mais cedo, para os três comandantes militares ficou o dito pelo não dito. Enzo Peri (Exército), Júlio Soares de Moura Neto (Marinha) e Juniti Saito (Aeronáutica) repetiram um discurso ensaiado previamente na cerimônia de promoção de oficiais generais, ontem de manhã, no Palácio do Planalto. Os três garantiram que está encerrado o assunto sobre a revisão da Lei de Anistia. O trio alegou que o presidente Lula pôs fim à polêmica na reunião da coordenação política, segunda-feira.

Na verdade, os militares embarcaram em mais uma marketagem noticiosa do Bolcheviquepropagandaminister. Acreditaram na lenda de que o chefão Lula teria enquadrado os ministros Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vanucci (Direitos Humanos). Na versão oficial, os militares teriam acreditado nessa suposta repressão verbal do Boi tatá que, tudo indica, não ocorreu. O desgoverno não fala de revisão da anistia, mas continua com o revanchismo. Prova é que não foi cancelado (ainda) o próximo Seminário internacional “Direito à Memória e à Verdade”.

O evento, com o juiz espanhol Baltasar Garzón (famoso porque mandou prender o general chileno Augusto Pinochet, já falecido), acontecerá dia 18 de agosto, a partir das 19 horas, no auditório do luxuoso Hotel Renaissance, em São Paulo. Vai ver Lula não sabe que a festinha revanchista é patrocinada pela Caixa, e pela Unesp, numa realização da revista Carta Capital e da própria Presidência da República. Se isso for verdade, merece a Medalha do Apedeuta. Ou seja, o assunto da anistia está longe de ser encerrado. Blog Alerta Total


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