quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Rapaz tôlo! - Em CPI, Dantas ataca PF, adversários e busca envolver governo

Embora tivesse assegurado pelo STF o direito de ficar calado, o banqueiro Daniel Dantas abriu o verbo na CPI dos Grampos, na quarta-feira, atacou os responsáveis pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, e procurou envolver o governo.

Foram alvos de Dantas em seu depoimento o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, o ex-diretor da PF Paulo Lacerda e a empresa de gerenciamento de riscos Kroll.

Preso na Operação Satiagraha, comandada por Protógenes Queiroz, Dantas afirmou que o delegado teria lhe dito que a PF iria investigar "até o fim" a venda da Brasil Telecom para a Oi (Telemar), e que se fosse necessário chegaria até o filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em 2004, a Oi investiu 5 milhões de reais na Gamecorp, uma empresa de jogos para celular e TV, da qual um dos sócios era Fabio Luis Lula da Silva, filho do presidente. A operadora confirmou o investimento, que disse ser de interesse comercial, mas o movimento foi visto como suspeito pela participação de fundos de pensão de estatais e do BNDES entre os sócios da empresa telefônica.

A Oi assinou acordo para comprar a Brasil Telecom no dia 25 de abril deste ano, criando o que poderá ser a maior operadora do país em receita. O negócio, no entanto, ainda depende de uma mudança no atual Plano Geral de Outorgas (PGO), já que as duas são concessionárias de um serviço público (a telefonia fixa). Só um decreto do presidente Lula pode alterar o PGO.

Suborno e Kroll

Dantas negou que tenha tentado subornar, por meio de intermediários, um delegado da Polícia Federal. A PF e o Ministério Público acusam Dantas de oferecer 1 milhão de dólares a um delegado para que o nome dele e de outras duas pessoas fossem excluídos da investigação.

O banqueiro acusou o ex-diretor da PF e atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, de montar a Operação Satiagraha em represália à divulgação de relatório com contas suas no exterior que foi atribuído a Dantas.

Paulo Lacerda, que era diretor da PF quando a Operação Satiagraha começou, já havia se oferecido para depor na CPI e refutou as acusações de Dantas, a quem processa na Justiça.

Dantas também negou ter contratado a Kroll para fazer escutas telefônicas de concorrentes seus e de integrantes do governo. Ele afirmou que quem contratou a Kroll foi a Brasil Telecom, "de forma defensiva", para evitar possível investigação da Telecom Italia.

A Kroll foi contratada pela Brasil Telecom, na época em que era gerida pelo Opportunity de Daniel Dantas. Opportunity e Telecom Italia estavam em pleno conflito societário, ambos sócios da Brasil Telecom. O Opportunity acabou afastado da gestão da operadora em 2006 e a Telecom Italia vendeu suas ações aos fundos de pensão e ao Citigroup no ano passado.

Em nota, a Kroll rebateu acusações de que tivesse feito "escutas telefônicas clandestinas" em 2004. "A empresa reitera que nunca participou de atividades de espionagem, incluindo escutas telefônicas e invasão de emails", diz a nota. "A própria Polícia Federal constatou e emitiu um laudo confirmando que o equipamento de propriedade da empresa encontrado em 2004 serve para eliminar escutas telefônicas", acrescenta.

A Telecom Italia também se manifestou por meio de nota, refutando as acusações de Dantas. "A atual diretoria da Telecom Italia está tomando as medidas necessárias para o esclarecimento dos fatos à sociedade", diz a empresa, salientando que está à disposição das autoridades para "chegar à verdade dos fatos". "Ele veio com roteiro e passou muitos recados para o governo", disse o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). "Ele não apresentou dado objetivo, acusou, mas não trouxe prova."

As duas linhas de investigação da oposição na CPI são de que Dantas poderia ter operado ingresso de recursos do exterior para campanhas políticas e da existência de irregularidades na possível venda da Brasil Telecom para a Oi. A CPI terá acesso às operações da PF e poderá confrontá-las com as acusações de Dantas. Reuters


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