domingo, 10 de agosto de 2008

Isso ainda vai dá 'côsa': EUA acusam Rússia de querer derrubar presidente da Geórgia

Os Estados Unidos acusaram neste domingo a Rússia de se opor a um cessar-fogo na região separatista da Ossétia do Sul, afirmando que Moscou quer derrubar o governo pró-Washington do presidente georgiano, Mikhail Saakashvili.

A Geórgia lançou um cerco à Ossétia do Sul na última quarta-feira (6), enviando tanques para a capital separatista, em tentativa de retomar o controle sobre a região. Em resposta, a Rússia tem bombardeado a Geórgia e realiza sobrevôos na região. O governo de Tblisi pediu apoio à ONU e acusou a Rússia de atacar a capital, portos e bases aéreas do país.

O embaixador dos EUA na ONU, Zalmay Khalilzad, disse hoje perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas que, em uma conversa telefônica, o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, comunicou à secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que essa era a intenção de Moscou neste conflito.

"Ele disse a ela que a liderança da Geórgia deve ir embora, que Saakashvili deve ir embora. Isso é completamente inaceitável", disse hoje o diplomata americano durante a reunião urgente do Conselho de Segurança sobre a situação na Geórgia.

Coluna de tanques russos segue em direção a Dzhava, na Ossétia do Sul; EUA acusam Rússia de querer derrubar governo da Geórgia

Porém, o chefe da diplomacia russa negou que tenha dito a Rice que o presidente georgiano deveria deixar o cargo. "Condoleezza Rice interpretou incorretamente nossa conversa", declarou à imprensa, segundo a agência oficial russa Itar-Tass.

A reunião, a quarta em três dias, foi interrompida para que um reduzido grupo de membros do Conselho negocie a redação de um projeto de resolução que peça o cessar-fogo e que possa ser apresentado nas próximas horas.

A Rússia já deixou claro que se oporá à proposta, apesar de fontes diplomáticas terem afirmado que a minuta substitui a "condenação" expressa aos ataques russos proposta inicialmente pelos EUA.

Discussão

Em um dos momentos mais tensos da reunião de hoje, o representante americano se dirigiu ao embaixador russo, Vitaly Churkin, e pediu declarações sobre as verdadeiras intenções russas na Geórgia, o principal aliado de Washington no Cáucaso.

"É a mudança de regime o objetivo de seu governo, a derrocada de um governo eleito democraticamente?", questionou.

Khalilzad afirmou, em declarações posteriores à imprensa, que "os dias em que líderes na Europa tombavam mediante a força militar acabaram".

Churkin se mostrou surpreso com a alusão pública a uma "ligação telefônica confidencial" e afirmou que "mudança de regime é uma invenção puramente americana" que eles não usam.

"Nunca utilizamos esta terminologia em nosso pensamento político. Nós somos pela democracia na Geórgia", disse Churkin à imprensa.

Segundo ele, "em algumas ocasiões há líderes eleitos democrática ou semi-democraticamente que provocam grandes problemas a seus países e às vezes esses líderes têm que se perguntar quão úteis foram para sua gente".

O embaixador georgiano Irakli Alasania também declarou que "a invasão russa" em seu território tem como meta tirar Saakashvili do poder.

"Saakashvili é o líder eleito da Geórgia e todo o país atualmente o apóia. Defenderemos nossa liberdade junto a nosso presidente", disse o representante georgiano, que esteve presente nas reuniões como parte interessada, apesar de não ser membro do Conselho de Segurança da ONU.

Cessar-fogo

Quanto à resolução proposta pelos EUA e na qual trabalham os membros do Conselho, o embaixador da Rússia afirmou que "não é uma resposta adequada à situação".

De acordo com Churkin, a solução correta seria "a retirada das forças georgianas da Ossétia do Sul e a aceitação de um acordo para não usar a força".

"Ainda não vi uma minuta de resolução assim. Se temos que nos unir para uma resolução, tem que haver algo que possamos aceitar", acrescentou.

O embaixador americano afirmou que a oposição da Rússia, um membro permanente com direito a veto no principal órgão da ONU, torna impossível a adoção do texto que os EUA redigem junto a Reino Unido, França e outros membros do Conselho.

"Pelo menos o mundo tem que saber que todos estamos unidos e que é a Rússia que está no lado errado", disse Khalilzad.

O chamado a um cessar-fogo foi apoiado pela maioria dos 15 membros do Conselho de Segurança em seus discursos na reunião de hoje.

Vários deles também se manifestaram contra as declarações de Churkin sobre o secretariado da ONU, que ele acusou de "não ser objetivo" em seu pedido de um cessar-fogo imediato.

Na saída da reunião, o embaixador russo disse que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, "carece de uma correta e completa compreensão da complexidade da situação". Folha Online


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