segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Comunidade internacional pede que Rússia aceite cessar-fogo

Os ministros das Relações Exteriores do grupo dos sete países mais desenvolvidos do mundo - Estados Unidos, Itália, França, Alemanha, Japão, Reino Unido e Canadá - apelaram à Rússia nesta segunda-feira que aceite um cessar-fogo imediato com a Geórgia e respeite a integridade territorial do país, informou o Departamento de Estado dos EUA.

Um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano - cujo nome não foi divulgado - disse que os ministros discutiram a situação na Geórgia e na região separatista da Ossétia do Sul em uma conferência telefônica e manifestaram apoio aos esforços de mediação liderados pelos ministros das Relações Exteriores francês, Bernard Kouchner, e finlandês, Alexander Stubb.

"[Os ministros do G7] pediram à Rússia que aceite um cessar-fogo imediato. Eles expressaram profunda preocupação com as mortes de civis e os ataques contínuos a locais civis", disse o porta-voz. "Eles reafirmam apoio à soberania e à integridade territorial da Geórgia e pedem à Rússia que as respeite", acrescentou o porta-voz.

Novos ataques

De acordo com a agência de notícias Reuters, que cita uma testemunha, ao menos seis helicópteros de ataque georgianos bombardearam alvos na região em torno da capital da Ossétia do Sul, Tskhinvali. A ação, segundo a Reuters, parece contradizer uma declaração do governo georgiano de colocar fim à ação militar na região separatista.

Segundo a testemunha, os helicópteros voavam da própria Geórgia e atacaram alvos na região da fronteira com a Ossétia do Sul, fazendo surgir uma nuvem de fumaça negra.

De acordo com o porta-voz do Ministério do Interior da Geórgia, Shota Utiashvili, a defesa antiaérea georgiana abateu 19 aviões russos desde sexta-feira passada (8), quando começaram as ações bélicas na Ossétia do Sul.

Utiashvili afirmou nesta segunda-feira que o último avião russo derrubado em território georgiano, "décimo nono", foi abatido hoje junto a Gori, no norte da Geórgia, quando o presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, e o ministro de Relações Exteriores francês visitavam a cidade.

O Estado-Maior Geral da Forças Armadas da Rússia admitiu ter perdido quatro aviões, três aeronaves de assalto Su-25 e um Tu-22, que, segundo Moscou, realizava uma missão de observação.

Putin

O primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, criticou os Estados Unidos nesta segunda-feira, dizendo que o apoio deles à Geórgia no conflito sobre a região separatista da Ossétia do Sul revela uma cínica mentalidade de Guerra Fria.

Putin, falando na televisão estatal, culpou os EUA dizendo que Washington estava ajudando a levar as tropas georgianas do Iraque para a disputa. Em discurso aos altos funcionários do governo, Putin disse que alguns políticos norte-americanos ainda têm uma mentalidade de Guerra Fria.

"É uma pena que alguns de nossos parceiros não estejam nos ajudando, mas, essencialmente, estão nos atrapalhando", disse Putin. "Refiro-me à transferência por aviões de transporte militar dos Estados Unidos do contingente militar da Geórgia do Iraque praticamente até a zona do conflito", disse Putin.

"A escala desse cinismo é espantosa. A tentativa de transformar o branco em preto, o preto em branco e de retratar as vítimas de agressão como agressores e de colocar a responsabilidade das conseqüências das agressões nas vítimas."

Ontem, o presidente americano, George W.Bush, e seu vice, Dick Cheney, criticaram a ofensiva militar russa na Ossétia do Sul e o governo alertou o país sobre as possíveis conseqüências da ação para as relações internacionais da Rússia.

O conflito entre a Rússia e a Geórgia eclodiu na última quinta-feira (7) quando o governo georgiano lançou um cerco à Ossétia do Sul - que proclamou a independência em 1992 e conta com o apoio da Rússia -, enviando tanques para a região separatista, em tentativa de retomar o controle do local.

Em resposta, a Rússia tem bombardeado a Geórgia e realiza sobrevôos na região. O confronto já deixou cerca de 40 mil refugiados, de acordo com a Cruz Vermelha.

Oficiais georgianos confirmaram o retorno de quase todo o contingente de 2.000 homens do Iraque e seu desdobramento imediato no sul da Ossétia do Sul. "A maior parte do nosso contingente do Iraque voltou", disse Nika Rurua, do comitê de defesa do Parlamento georgiano. "Quase todos eles foram enviados para a região perto da zona de conflito", disse à agência de notícias Reuters.

Putin, ex-presidente russo, também disse que o país daria uma "conclusão lógica" para sua missão de paz na Ossétia do Sul. "A Rússia, claro, vai dar uma conclusão lógica à sua missão de paz na Ossétia do Sul. Vamos nos esforçar para trabalhar as relações com todos os participantes deste conflito e isso inclui, é claro, o lado georgiano."

O representante permanente da Rússia diante da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Dimitri Rogozin, anunciou à imprensa ter pedido aos dirigentes da Aliança Atlântica uma reunião da Otan-Rússia para amanhã (12). "Insistimos que a reunião aconteça nesta terça, data em que a ministra georgiana das Relações Exteriores se reúne com dirigentes da Otan", acrescentou.

Cessar-fogo

Também nesta segunda-feira, o presidente da Geórgia assinou um documento de cessar-fogo unilateral na presença dos ministros de Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, e da Finlândia, Alexander Stubb.

Segundo a televisão georgiana, que divulgou imagens do momento da assinatura, o documento será entregue à Rússia por Kouchner e Stubb, que viajariam a Moscou para se reunir com os dirigentes russos.

Kouchner, que apresentou nesta segunda ao presidente georgiano um "plano para o cessar-fogo" na região, palco de confrontos pelo quarto dia consecutivo, afirmou que Saakashvili está "decidido a conseguir a paz".

"O presidente Saakashvili aceitou praticamente todas as propostas que fizemos", afirmou Kouchner à televisão francesa. O chanceler francês exerce neste semestre a Presidência semestral do conselho de ministros da União Européia (UE).

Ele ressaltou que o objetivo da visita à região era "propor uma trégua" em forma de fim imediato e incondicional das hostilidades, uma promessa assinada de não voltar a usar a força e retirada das tropas. Folha Online


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