quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Lula defende sigilo de gastos da Presidência e apóia uso de cartões corporativos



Luiza Damé, Evandro Éboli e Maria Lima - O Globo

BRASÍLIA E MACAPÁ - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa nesta terça-feira da utilização dos cartões corporativos. Segundo ele, o mecanismo precisa de correções, mas "é a mais séria e transparente forma de cuidar dos gastos". Alegando questões de segurança e citando o atentado contra o colega José Ramos-Horta em Timor Leste, Lula criticou as intenções de retirar o sigilo dos gastos da Presidência da República e da família do presidente. Em entrevista na manhã desta terça à rádio CBN o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu a preservação da intimidade das famílias, mas não eventuais gastos irregulares feitos por elas.

- No que diz respeito à segurança do presidente e da família, a Presidência da República é uma instituição que as pessoas precisam respeitar e não banalizar. Não é o Lula. O Lula é hoje, amanhã é outro - afirmou, após encontrar o presidente francês Nicolas Sarkozy na Guiana Francesa .

Para Lula, todo o gasto que não se referir à segurança pessoal do presidente e da família do presidente deve ser tornado público. Ele considera a despesa com segurança "segredo de Estado e que níguém precisa saber".

- Para mim só tem um gasto que não deve ser explicitado que é o gasto com segurança. Segurança é uma coisa muito delicada. E uma boa segurança, os adversários não sabem que ela existe e, na hora em que souberem, deixa de ser segurança - disse Lula.

Lula argumentou que, com um "pouco de cuidado", Ramos-Horta não teria sido atingido enquanto fazia ginástica pela manhã.

- Você não pode dizer onde é a casa do segurança do presidente da República, você não pode dizer onde ele vai alugar um carro, porque se não fica muito fácil quem quiser fazer uma desgraça fazer a desgraça por antecipação. Quando se trata de segurança é uma questão de estado e aí tem que ser efetivamente sigiloso - afirmou.

Para Lula, a abertura da CPI do Cartão Corporativo não vai atrapalhar as votações de projetos de interesse do Planalto, nem mesmo da reforma tributária, que ainda não foi apresentada. O presidente citou o crescimento do PIB, da indústria, do crédito e da agricultura no país, e disse que só Deus tem poder de frear o desenvolvimento brasileiro.

- Estou convencido de que nada, absolutamente nada, a não ser a força de Deus vai pode impedir o Brasil de conquistar o espaço que é dele no mundo contemporâneo - afirmou o presidente, excluindo inclusive a crise americana.

Para ele, no entanto, é preciso ter cuidado com uma tradição da oposição brasileira de torcer para que as políticas de governo dêem errado.

- Não é o PSDB, nem o PFL, era o PT quando estava na oposição. Parte da oposição historicamente fica sempre torcendo para as coisas não darem certo, porque se derem errado eles acham que vão ganhar no

Múcio: Lula reconhece que deveria ter agido contra mau uso de cartões
Mais cedo, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, afirmara que o próprio Lula reconheceu que o governo deveria ter agido antes no sentido de impedir e punir os maus gastos com cartão corporativo, já que as despesas eram publicadas pelo Portal da Transparência, da Controladoria-Geral da União (CGU). Múcio deu uma coletiva após participar de uma reunião com líderes e vice-líderes da base aliada no Congresso.

- Cometeu-se algum erro? Cometeu-se. O governo tornou as contas transparentes, mas, em determinado momento, deixou de fazer a censura conta por conta. Nós não usamos a transparência a qual nós criamos na hora em que apareceu primeiro erro. Poderíamos ter corrigido e talvez não ocorressem esses sucedâneos -afirmou o ministro.

Múcio disse ainda que o governo não vai interferir nas escolhas do presidente e do relator da CPI dos Cartões Corporativos, mas em seguida acrescentou que os cargos devem ficar mesmo sob o comando de PMDB e PT. O ministro insistiu na posição de que a comissão não deve ter como foco atingir Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e suas famílias.

- O governo não teme a CPI, que acabou se tornando algo inevitável. Ela vai esclerecer os assuntos, mas não é objetivo atingir os presidentes. A preocupação é que não se macule a instituição da Presidência da República - afirmou.
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