domingo, 18 de maio de 2008

Tarso: "Posso ser candidato a tudo ou não ser candidato a nada"

Entrevista: Tarso Genro, ministro da Justiça - Zero Hora

Passadas as eleições de outubro, o PT dará a largada nas discussões para a escolha do candidato à Presidência em 2010. Depois de ser representado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em cinco pleitos (1989,1994,1998, 2002 e 2006), o partido tem agora a difícil tarefa de encontrar um nome capaz de dar continuidade ao legado de Lula.

Convencido de que esse candidato precisa ter identidade e vínculos fortes com o PT, o ministro da Justiça, Tarso Genro, diz que o partido não pode deixar de ser protagonista em 2010 sob pena de perder sua autonomia política. Tarso diz que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, é apenas um dos nomes cotados para concorrer à sucessão de Lula.

A seguir, a síntese da entrevista concedida por Tarso a Zero Hora na sexta-feira, em seu escritório no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre:

Zero Hora - O senhor está convencido de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer um terceiro mandato?

Tarso Genro - Totalmente. Isso foi criado pela oposição, e erramos em cair na discussão. A oposição precipitou o debate eleitoral e o fim aparente do governo Lula. O próprio presidente começou a falar no terceiro mandato para negar, como se o mandato dele estivesse no fim, mas sequer tinha completado o primeiro ano quando a discussão surgiu. Mas não tem a menor hipótese de vingar.

ZH - O que explica a popularidade crescente de Lula?

Tarso - Algumas questões que o governo está acordando são tão universais e antigas que poderiam ser tratadas por qualquer governo medianamente politizado, sem grandes preocupações ideológicas e programáticas. São questões antigas, das quais o país estava carente e que qualquer governo sério abordaria. Quando as pessoas são atendidas minimamente no seu cotidiano, elas podem olhar um pouquinho a história e aí estabelecer uma identidade. Não adianta querer bater, desmoralizar o governo, porque a vida das pessoas está melhorando, elas estão comprando mais, comendo mais.

ZH - O presidente não tem um candidato forte a sucedê-lo na eleição de 2010. Como o PT vai solucionar esse problema?

Tarso - O partido, em função de sua crise, ser anexo de sustentação de uma pessoa como Lula, pelas características de universalidade que ele tem, pela capacidade de se comunicar com a massa, pela liderança que ele é, é uma coisa virtuosa. Agora, num próximo período, ninguém vai ter esse estatuto. Portanto, tem de ser um candidato com profundo vínculo partidário e que compreenda que o partido vai ser um sujeito político importante para compor um sistema de alianças que não se dará exclusivamente em torno da liderança de uma pessoa como foi o caso de Lula.

ZH - Como o PT vai encontrar esse nome?

Tarso - Estamos compondo um grupo de 10, 12 dirigentes do partido, com voz pública, respeitabilidade, relações políticas internas e sólidas para trabalhar esse conceito de núcleo dirigente. Entram nesse grupo Patrus Ananias (ministro do Desenvolvimento Social), Luiz Dulci (ministro da Secretaria-Geral da Presidência), Marco Aurélio Garcia (assessor de Assuntos Internacionais da Presidência) e eu, entre outros. Estamos tratando de partido, e não de candidato.

ZH - A ministra Dilma Rousseff não tem esse vínculo com o partido. Isso exclui sua candidatura?

Tarso - Estamos tratando de núcleo dirigente partidário, e não de candidato. Eventualmente Dilma pode ser candidata, mas atualmente ela não compõe esse grupo porque não tem militância no partido, em grupo nenhum. Não é defeito dela, é um estilo de trabalho. Ela é uma gestora de confiança do presidente com todas as boas características que tem.

ZH - Dilma vai ter de criar esse vínculo com o PT?

Tarso - Esse é um enigma ainda não proposto para nós. Esse grupo dirigente ampliado não travou discussão sobre isso. Estamos fazendo as condições preparatórias para isso. Depois das eleições municipais, vamos começar a discutir 2010.

ZH - Dilma tem chances de se tornar candidata à Presidência?

Tarso - É uma das pessoas que pode ser. Uma das.

ZH - Quem mais poderia ser candidato?

Tarso - Gosto muito de Patrus Ananias (ministro do Desenvolvimento Social), de Jaques Wagner (governador da Bahia). Marcelo Déda (prefeito de Aracaju) é um bom quadro.

ZH - O senhor também se coloca como possível candidato à Presidência ou a governador?

Tarso - Ainda não tenho claro isso. O que estou tentando é ajudar um grupo de companheiros a criar uma nova hegemonia no PT. Depois vou discutir essa questão, independentemente de ser candidato a vice-presidente, a presidente, a governador ou a senador. Se colocar esse tipo de questão agora, perco autoridade no processo de reorganização do partido. Passo a ser parte interessada.

ZH - O fato de o presidente elogiar Dilma com freqüência e dar demonstrações de que gostaria que ela fosse candidata não pode influenciar a decisão do PT?

Tarso - O presidente está testando o nome de Dilma. Mas eu também já fui lançado à Presidência por Lula. Lembra? Em 1998. O que eu dizia naquela época: eu só admito falar do meu nome se Lula não for candidato. Ele era o meu candidato. É claro que tem importância e até é bom que o presidente jogue um nome.

ZH - O presidente consegue transferir sua popularidade ao candidato que apoiar?

Tarso - Acho que consegue. Lula vai ter uma grande influência na eleição. O que pode ocorrer é no primeiro turno ele ter uma posição discreta, já que pode haver dois candidatos aliados. Além de Ciro Gomes (PSB), pode ser que Aécio Neves (governador de Minas Gerais, do PSDB) vá para o PMDB e se torne candidato da base aliada.

ZH - Há possibilidade de o PT apoiar um aliado?

Tarso - Não. O PT vai ter candidato a presidente. Anote isso. O PT tem de apostar na regeneração como sujeito político, ou nunca vai ter autonomia como partido. Não tem dirigente partidário que não tenha essa visão, dos moderados aos mais extremos. Como um partido que tem um presidente da República não vai concorrer a sua sucessão?

ZH - O senhor acredita que Aécio Neves vá para o PMDB?

Tarso - A minha impressão é que sim. Conversei com Aécio, e ele não rejeitou essa possibilidade, não foi peremptório. Pode ocorrer uma coisa muito extravagante nas eleições presidenciais. No limite, se tiver dois candidatos da base aliada e um desses candidatos for mais forte que o do PT e Lula não quiser participar do primeiro turno, o PT pode não ir para o segundo turno. Se Aécio for para o PMDB, podem ir para o segundo turno Aécio e José Serra (governador de São Paulo pelo PSDB). Aí vai depender de como Lula vai se mover.

ZH - O seu nome desponta como principal candidato do PT a governador. Como o partido vai conduzir essa escolha?

Tarso - Há uma avaliação da maioria dos dirigentes de que não deve haver prévia para escolha do candidato. Se Olívio Dutra (ex-governador) disser que quer ser candidato e for para uma prévia, eu, no limite, diria: "Vai". Não há condições de retomar o espírito de prévia para recriar uma hegemonia depois da prévia. O candidato a governador vai ter de ser negociado. Não vou a uma prévia para ser candidato. Posso ser candidato a tudo e posso não ser candidato a nada. Agora, não me atrai o parlamento. Não me atrai ser candidato a senador e ter de me vincular oito anos ao Senado ou ficar quatro anos para depois ser candidato a governador novamente. Não sou mais guri. Tenho 61 anos.
Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: