sexta-feira, 23 de maio de 2008

Opinião do Estadão: A competitividade nacional

A iniciativa e a criatividade do empresariado melhoram a competitividade internacional do Brasil, mas a ineficiência e o peso excessivo da máquina estatal impedem que o País avance mais nesse terreno, quando não o arrastam para trás. O Brasil tem conseguido evoluir no ranking mundial de competitividade, mas, por causa dos obstáculos que o setor público cria ou não consegue remover, continua em posição muito desconfortável em relação aos seus principais competidores.

Essa situação é mostrada pela mais recente pesquisa sobre a competitividade de 55 países, feita pelo IMD, escola suíça considerada uma das melhores do mundo na área de administração, com a colaboração, no Brasil, da Fundação Dom Cabral. Nessa pesquisa, o Brasil avançou seis posições, o que é notável. Das 55 nações, apenas duas, Eslovênia (na 32ª posição) e Polônia (na 44ª), conseguiram ganho melhor, de oito posições, em relação à pesquisa anterior.

Mas, ocupando a 43ª posição, o Brasil continua mal classificado. Na comparação com os países que formam o grupo chamado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), está à frente da Rússia (47ª posição), mas atrás da China (17ª) e da Índia (29ª colocação). Na liderança do ranking estão os Estados Unidos, seguidos por Cingapura, Hong Kong, Suíça e Luxemburgo.

A pesquisa é baseada em quatro fatores: eficiência empresarial, desempenho econômico, eficiência do governo e infra-estrutura. Nos dois primeiros, cujos resultados dependem essencialmente da atividade privada, o Brasil está bem. Com relação à eficiência privada, por exemplo, passou do 40º para o 29º lugar.

O professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, destaca a adaptação às mudanças do mercado, a abertura a novas idéias e a eficiência das grandes empresas em produzir de acordo com os padrões internacionais de qualidade entre as ações do empresariado que justificam a melhora da classificação do Brasil.

Com relação ao ambiente econômico, a política fiscal, embora mostre sinais nítidos de deterioração, com a expansão dos gastos públicos num ritmo superior ao do crescimento da economia, ainda alcança resultados que os analistas internacionais consideram positivos.

Em entrevista a jornais brasileiros, o diretor do IMD, Stéphane Garelli, destacou, por exemplo, que as finanças públicas estão em boa situação, a inflação está sob controle, as reservas aumentaram e o PIB cresce a um ritmo maior do que o do aumento populacional, o que resulta em crescimento do PIB per capita e em estímulo ao consumo interno.

No item "eficiência do governo", o Brasil avançou três posições em relação à pesquisa anterior do IMD, mas, mesmo assim, está muito mal colocado. Ocupa a 51ª posição, à frente apenas de quatro nações. No quesito "tempo necessário para abrir uma empresa", um dos que compõem o item "eficiência do governo", o Brasil é o último colocado. Reconheça-se o esforço das autoridades no sentido de reduzir esse tempo, que desestimula a atividade empresarial no País, mas os resultados ainda não apareceram com clareza nas pesquisas.

Sistema tributário oneroso demais e muito complicado, regime previdenciário caro, legislação trabalhista que impõe encargos e regras em excesso, inibindo a abertura de postos de trabalho no mercado formal, são problemas que o País enfrenta há muitos anos, mas aos quais o governo não consegue dar uma resposta adequada, o que o torna ainda mais ineficiente, de acordo com a pesquisa.

Portos e aeroportos congestionados, rodovias malconservadas e malha viária insuficiente, entre outros fatores, colocam o Brasil entre os últimos da lista no item "infra-estrutura". Programas coerentes de longo prazo e investimentos contínuos são indispensáveis para eliminar esses obstáculos ao crescimento. O Programa de Aceleração do Crescimento visa, entre outros objetivos, a recuperar a infra-estrutura, e os analistas esperam bons resultados dele. O que a prática mostra, porém, é que o governo do PT tem enorme dificuldade para tirar os planos do papel.

Também no item da "infra-estrutura" está a educação. Nesse, igualmente, a classificação do Brasil é muito ruim, pois a desatenção com a educação compromete o futuro.
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