segunda-feira, 19 de maio de 2008

Opinião no Estadão: Placar da corrupção

Carlos Alberto Di Franco

Gautama, 61 denunciados - A Procuradoria-Geral da República ofereceu à Justiça denúncia contra 61 pessoas acusadas de envolvimento com a máfia que fraudava licitações e desviava dinheiro de obras financiadas com recursos federais, desarticulada há um ano na Operação Navalha, da Polícia Federal (PF). A denúncia do Ministério Público Federal acusa o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau (PMDB) de receber R$ 100 mil de propina para liberar pagamentos à empresa Guatama, de Zuleido Veras, apontado como chefe da quadrilha suspeita de ter desviado cerca de R$ 300 milhões dos cofres públicos.

Também foram denunciados os governadores do Maranhão, Jackson Lago (PDT), e de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), este acusado de receber R$ 500 mil de propina; além dos ex-governadores João Alves Filho (DEM-SE) e José Reinaldo Tavares (PSB-MA). Todos suspeitos de beneficiar a Gautama em troca de comissões. Se a denúncia for aceita, eles passarão a réus no processo que correrá no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Paulinho foi avisado antes - O deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), foi avisado, na véspera da Operação Santa Teresa, de que na manhã seguinte "alguma coisa grave" poderia acontecer com seus aliados. A informação consta do depoimento do coronel da reserva da Polícia Militar Wilson Consani Júnior, espécie de araponga da Força Sindical e acusado de integrar a quadrilha que explorava prostituição e cobrava propina para facilitar empréstimos no BNDES.

Consani disse à PF que foi convocado, no dia 23 de abril, para uma reunião urgente com integrantes da quadrilha na boate W.E., um prostíbulo na região da Avenida Paulista pertencente ao empresário Manuel Fernandes de Bastos Filho, o Maneco - também acusado de integrar a quadrilha. No bordel, a quadrilha foi avisada por um homem com deficiência física, possivelmente policial federal, de que a partir das 6 horas da manhã seguinte a PF desencadearia prisões e ações de busca e apreensão. Os objetivos seriam a exploração de prostíbulos e liberações de verbas no BNDES. Entre os alvos estaria o advogado Ricardo Tosto, até então integrante do Conselho Administrativo do BNDES, indicado pela Força Sindical.

O mensalinho de Zeca do PT - O Ministério Público de Mato Grosso do Sul investiga esquema de pagamento de propinas na gestão de Zeca do PT (1999-2006). Ele é acusado de ter pago "mensalinho" a 33 pessoas, incluindo dirigentes locais do PT, parentes e jornalistas que dessem cobertura favorável ao seu governo. São oito processos em tramitação em que o ex-governador é acusado de peculato. Ele é acusado de ter desviado pelo menos R$ 30 milhões dos cofres públicos.

PF denuncia Raupp ao STF - A Polícia Federal pediu autorização ao Supremo Tribunal Federal para abrir inquérito sobre o suposto pagamento de propina da Alstom, fábrica francesa de turbinas, ao líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (RO), a seu assessor José Roberto Paquier e ao diretor de Projetos da Eletronorte, Adhemar Palocci, entre outros altos funcionários da estatal investigados na Operação Castores. A PF também pediu licença para investigar o deputado Luiz Carlo Hauly (PSDB-PR) por quebra de sigilo de informações da Hidrelétrica de Itaipu.

Bloqueados bens de Jader - O Tribunal Regional Federal da 1ª Região, com sede em Brasília, determinou o bloqueio de bens dos acusados de desvio de dinheiro público da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Entre as 11 pessoas atingidas pela decisão está o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA). O pedido foi feito pelo Ministério Público Federal no Tocantins, com o objetivo de ressarcir os cofres públicos de um golpe aplicado na Sudam. Segundo o Ministério Público, o prejuízo com as irregularidades ultrapassa R$ 18 milhões. Segundo Jader Barbalho: "É mais um show de pirotecnia do Ministério Público contra mim."

O Placar da Corrupção, didaticamente exposto pelo jornal O Globo, desperta indignação e, ao mesmo tempo, provoca um perigoso efeito colateral: a desesperança. Milhões de reais desaparecem no ralo da corrupção. E, aparentemente, nada acontece. A impunidade é a pior das sensações. O Brasil, no entanto, começa a questionar a histórica cultura do faz-de-conta. Imprensa, Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário estão vivos. Felizmente.

A democracia é o melhor antídoto contra o veneno da corrupção. Como já escrevi neste espaço opinativo, os caminhos democráticos lembram as trilhas de montanha. O excursionista está sempre subindo, até mesmo quando parece que está descendo. A sinuosidade das picadas e o vigor do Sol não podem enfraquecer a aspiração de chegar ao cume. A democracia é um longo aprendizado. Mas funciona. O eleitor, inicialmente ingênuo e manipulável, vai ganhando discernimento. O ostracismo das urnas e a perda de cargos já são um passo, mas não basta. A conseqüência do crime, independentemente do poder do culpado, deve ser a rigorosa punição penal e civil.

A corrupção é, de longe, uma das piores chagas que castigam o organismo nacional. Esperemos, todos, que o Judiciário, Poder que conta com inúmeros homens de bem, não atue de costas para a cidadania.

É preciso que a sociedade civil, os juristas, os legisladores, você, caro leitor, e todos os que têm uma parcela de responsabilidade na formação da opinião pública façam chegar às autoridades, com serenidade e firmeza, um clamor contra a impunidade e uma defesa contundente da ética. É preciso dar um basta à corrupção.

Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia
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