Os dois principais institutos de pesquisas do país, Ibope e Datafolha, não acertaram os resultados das urnas em algumas cidades. Os casos mais notórios e distantes da média de 2 a 3 pontos percentuais de margem de erro ocorreram no Rio, em São Paulo e Belo Horizonte, segundo analistas políticos. Para o cientista Marco Antonio Villa, as três capitais se tornaram um verdadeiro "Triângulo das Bermudas" na política nacional por causa das pesquisas. Ele avalia que os eleitores podem ter alterado suas opções porque receberam informações erradas, principalmente no Rio.
- As pesquisas são fontes importantes para a democracia, são parte do processo eleitoral. Podemos chegar a 2010 em uma situação de descrédito sobre as pesquisas de opinião, o que é muito negativo - disse Villa.
Polarização leva eleitor a voto útil
O caso mais grave foi registrado no Rio. Quando o Datafolha já mostrava o crescimento de Fernando Gabeira (PV), o Ibope continuou informando o eleitor que a polarização se dava entre Eduardo Paes (PMDB) e Crivella (PRB). Gabeira chegou a acusar o Ibope de estar a serviço do PMDB.
- O que aconteceu agora, nas urnas, mostra que o candidato tinha alguma razão. Há algo de errado na metodologia do Ibope. Quando se aponta uma polarização, o eleitor tende a exercer o voto útil - disse Villa.
Já em São Paulo, os dois institutos colocaram Marta Suplicy (PT) na liderança, e as urnas deram a primeira colocação para o prefeito Gilberto Kassab (DEM). O Ibope chegou a confirmar a liderança de Marta em pesquisa de boca-de-urna (feita no dia da eleição).
Em Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB) aparecia muito à frente de Leonardo Quintão (PMDB), nos dois institutos, mas, nas urnas, a diferença ficou em apenas dois pontos.
- Parece que em Minas os caciques se acertaram, mas se esqueceram de combinar com os eleitores. E os institutos não captaram os eleitores. Creio que os institutos terão que rever suas metodologias - disse Villa, lembrando que ocorreram diferenças acentuadas também em Porto Alegre e Salvador.
Em entrevistas ao Globo, os diretores dos dois institutos negaram erros e trocaram acusações, principalmente por causa do Rio. O Datafolha avalia que foi o único a detectar o crescimento de Gabeira na reta final.
- Se não houvesse o Datafolha, a surpresa no Rio seria muito maior. E também seria outro resultado, porque eleitores da Jandira migraram para Gabeira. É claro que a pesquisa influenciou e isso é bom, é informação. No Rio, além de definir o candidato, o eleitor escolheu em qual instituto de pesquisa deve confiar - disse o diretor do Datafolha, Mauro Paulino.
Ibope acusa Datafolha de criar "onda" pró-Gabeira
Já o Ibope acusa o Datafolha de ter criado uma "onda" pró-Gabeira. O instituto teria elevado a estratificação social dos entrevistados, na análise do Ibope, e, com isso, encontrou mais eleitores de Gabeira, concentrados entre os mais estudados. Com a divulgação da pesquisa, mais eleitores migraram para o candidato, segundo o Ibope.
- É só analisar o Datafolha entre 5 de julho e 4 de outubro: o eleitor enriqueceu cerca de 10%. Ou seja: o Datafolha subiu o perfil da renda familiar e da escolaridade. Acho esquisito mudar uma amostra assim. Por isso, não foi erro do Ibope. O Datafolha criou uma "onda" que ajudou Gabeira - retrucou Márcia Cavallari, diretora de atendimento e planejamento do Ibope Inteligência.
Quanto às outras duas capitais do "Triângulo das Bermudas", os dois institutos também divergem sobre os desacertos. Ambos concordam, no entanto, em um ponto: segundo os dois dirigentes, os eleitores brasileiros têm mudado de opinião e decidido seus votos na última hora, passando incólumes pelas pesquisas.
Mauro Paulino, do Datafolha, admitiu que os institutos podem ter errado numericamente, mas defendeu que as pesquisas não podem ser compreendidas como "prognósticos", e sim como "tendências". Ou seja: elas devem ser analisadas quadro a quadro, pela evolução dos candidatos. Paulino também fez críticas ao Ibope.
- Quem analisa os gráficos (com a evolução das pesquisas) observa que o Datafolha mostrou todas essas tendências confirmadas nas urnas. Não acertamos os números e alguns podem entender isso como um erro. Mas nós mostramos as tendências do eleitorado. Há um movimento do eleitorado brasileiro no próprio dia da eleição e, por isso, não fazemos prognósticos numéricos. Já o Ibope vende suas pesquisas como "prognósticos". Isso é errado - disse Paulino.
Ele citou o caso de São Paulo como exemplo da movimentação do eleitorado:
- Em São Paulo, o surpreendente foi realmente a ultrapassagem de Kassab sobre Marta em 0,8%. Agora, nós não fizemos a boca-de-urna, deveríamos ter feito. O Ibope fez e não detectou. A boca-de-urna teria que ter detectado, porque as pesquisas mostram o desempenho do dia - disse, afirmando que, na véspera, quando o Datafolha foi fechado, 13% dos eleitores alertaram que poderiam mudar o voto na última hora. O Globo Online
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