Por Jorge Serrão
O chefão Lula perdeu a paciência ontem com o presidente Henrique Meirelles, do Banco Central. Tudo porque o verdadeiro condutor da política econômica não consegue lhe explicar, de maneira convincente, o que realmente acontece nesta crise global. Talvez, até, porque nem Meirelles queira entender de verdade para explicar. A Bolsa de Valores e Mercadorias de São Paulo já acumula perdas de 37,2% no ano com os sucessivos tombos dos últimos dias. Assim, a marolinha dos discursos oficiais se transforma em tsunami nas tensas reuniões fechadas do núcleo duro desgoverno.
Se pudesse, Lula detonaria Meirelles. Se tivesse condições, Meirelles já teria deixado o Banco Central há muito tempo. Seu plano é dar uma parada agora e se preparar para se candidatar ao governo de Goiás em 2010. Mas o agravamento da crise lhe obriga a permanecer onde está, mesmo a contragosto. A situação dos bancos no Brasil, apesar da retórica oficial em contrário, não é totalmente confortável. O BC acompanha tudo atentamente.
Nesta quarta-feira, uma providencial greve geral dos bancários, por tempo indeterminado, no Rio de Janeiro e São Paulo, evitará uma corrida aos bancos que precisam de uma parada interna para recuperação ou revisão de táticas de investimentos ou posições a serem cobertas imediatamente. Três grandes bancos brasileiros (Banco do Brasil, Bradesco e Itaú) teriam altos compromissos a fechar com o sistema do Western Union (tradicional instituição financeira que transfere dinheiro on line ao exterior. Os compromissos a serem honrados imediatamente variam de US$ 600 milhões a US$ 4 bilhões.
O chefão Lula pediu aos brasileiros que mantenham seus hábitos de consumo inalterados: “Durante muitas semanas vai se falar em crise no mundo. A bolsa vai subir e vai descer. Não se abalem, porque esse país se encontrou com seu destino. Continuem fazendo as mesmas coisas que vocês faziam”. O problema é que, na contramão do que recomendou Lula, os bancos e financeiras já retraíram o crédito pessoal e se mostram mais seletivos ainda na hora de liberar algum empréstimo novo.
Tudo indica que o aperto no crédito levará a uma queda na procura por imóveis e veículos. Os juros nos financiamentos imobiliários tendem a subir. Os prazos para pagamento devem diminuir. Tal crise deve afetar as construtoras e incorporadoras que hoje erguem imóveis com dinheiro emprestado. Se a construção civil for desaquecida, cria-se mais uma fonte de demissões e desemprego. O mesmo acontece com a indústria automobilística, onde as montadoras dão férias coletivas para diminuir a produção que não se sabe como será absorvida.
Em pleno segundo turno eleitoral, o chefão Lula aloprou ontem porque o dólar disparou até R$ 2,31. Foi a maior cotação desde maio de 2006. Os dois leilões cambiais realizados pelo Banco Central não foram suficientes para conter a disparada das taxas. Trabalha-se com o cenário de que o preço da moeda norte-americana frente ao real pode atingir R$ 2,40 no curto prazo. Ninguém conseguia comprar ou vender dólares com facilidade ontem. A equipe econômica também perde o sono porque o aumento abrupto do câmbio representa risco para o controle da inflação.
A lógica especulativa dessa crise é perversa. Grandes empresas exportadoras perderam o crédito. Algumas foram fortemente abaladas a correm risco de concordata por causa de operações malsucedidas de venda futura de dólar. É enorme o risco de não honrarem contratos. As empresas sem crédito apelam para o resgate de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) emitidos por bancos de menor porte. Aí começa outro problema. Os bancos pagam e ficam sem recursos. Precisam apelar ao redesconto do Banco Central para segurar o caixa.
Não foi à toa que o chefão Lula assinou na noite de segunda-feira, uma Medida Provisória autorizando o Banco Central a adquirir carteiras de crédito de bancos no Brasil por meio de operações de redesconto. O BC retomou os leilões de swap cambial tradicional, mas não consegue baixar a cotação da moeda norte-americana. Especuladores forçarão o BC a queimar as reservas. Até agora, o Banco Central optou por não atuar diretamente no mercado de câmbio à vista, mas pode mudar de tática a qualquer momento e intervir vendendo reservas para diminuir a desvalorização do real frente ao dólar.
Quem vai ganhar a queda de braço? Eis a questão.
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