terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Enchentes em Santa Catarina - A superficialidade da grande mídia

Só uma tragédia como essa que assolou o nosso Estado de Santa Catarina pra reunir tanto caco ao mesmo tempo. Haja lama!

Por Heitor Reis

Que a grande mídia é superficial no trato de questões de interesse público e profundamente analítica e crítica em casos que defendam seus interesses políticos e particulares é notório!

Mais uma vez isto ocorre no caso de Santa Catarina, como em outras desgraças desta natureza. A ênfase é quase absoluta na solidariedade para envio de alimentos aos desabrigados, mas insignificante em medidas que possam evitar que o fato se repita.

Por receberem gordas verbas publicitárias do governo federal, não deram a devida relevância a um fato, curiosamente divulgado exatamente pela Agência Brasil e TV Brasil, ambas estatais, as quais merecem nossos mais efusivos elogios por este exemplo de independência ou de rebeldia, após a greve dos funcionários da empresa.

O governo Lula aplicou apenas 13% da verba que se destinava à prevenção de tragédias, o que, certamente, permitiu maior amplitude do desastre, sendo responsável por uma parte considerável do desastre.

"Uma tragédia esperada"

Também não vi, nas várias matérias sobre o assunto, qualquer coisa sobre a responsabilidade do governador do estado em ter reduzido a área de proteção vegetal do solo.

Quanto à ocupação desordenada do solo, foi mencionada superficialmente, como sempre acontece.

Mas, tendo em vista as freqüentes e constantes tragédias anteriores, em Santa Catarina e em outras cidades do país, o que não se vê por aqui é uma cobrança sistemática das autoridades por parte dos meios de comunicação da adoção de medidas que realmente impeçam ou, pelo menos, atenuem os problemas das chuvas que se repetem, com maior ou menor intensidade, a cada ano.

A cumplicidade da grande mídia em ocultar os verdadeiros responsáveis por estes problemas e por não denunciarem tamanho descaso pela vida humana, é o mesmo que impede o Ministério Público de processar estes criminosos.

Era uma tragédia esperada!... Como serão as próximas que aumentarão o interesse da população pelas notícias, proporcionando lucro com a desgraça alheia. Talvez por isto não queiram realmente fazer algo para pressionar as autoridades a resolverem definitivamente este problema...

A mãe de todas as calamidades

Paradoxalmente, os mesmos bandidos do colarinho branco que contribuíram para a tragédia aparecem, nestes momentos, como salvadores da pátria e solidários às suas próprias vítimas, encontrando a mais absoluta e ingênua repercussão de sua hipocrisia na imprensa escrita, falada e televisiva.

Mas ninguém vai preso por isto. A culpa é sempre da natureza! E mais uma vez constatamos que o crime compensa.

Num país com 74% de analfabetos e semi-analfabetos, onde raros conseguem enxergar um milímetro à frente do nariz e os jornalistas, diplomados ou não, têm suas consciências vendidas aos seus patrões, tudo pode acontecer.

A ética e a qualidade da informação fazem parte da mesma lama que assassina, destrói e humilha a população, que também nada faz para merecer um tratamento melhor, tanto dos políticos, quanto da mídia. Cada povo tem o governo, a mídia e a lama que merece...

Quem sabe as entidades de direitos humanos não poderiam pressionar o Ministério Público para processar os verdadeiros culpados pela mãe de todas as calamidades, a nossa administração pública?

Quem sabe a opinião pública possa forçar os deputados a manterem os móveis antigos em seus apartamentos e comprarem 1,5 milhões de reais em mobília nova para os órfãos catarinenses do Estado brasileiro?

Heitor Reis, engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e em defesa dos Direitos Humanos, membro do Conselho Consultor da CMQV - Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida e articulista

Observatório da Imprensa


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