Operação abelha na Cabeçuda: Bombeiro Rogério vestido para matar
Não tive alternativa. A presença de novos vizinhos me obrigou a matar abelhas amigas que há mais de um ano e meio eram companheiras da minha solidão semanal.
Durante esse período convivemos em paz e harmonia. Um respeitando o espaço do outro. Iam e vinham o dia inteiro, voavam sobre a minha cabeça, se divertiam na tela do computador, da TV e faziam festa na luz fluorescente da cozinha, onde muitas, exaustas, jaziam no chão e aguardavam a cerimônia de sepultamento pela manhã. Eu as tratava com dignidade, afinal estavam a cuidar de uma rainha. Elas respondiam com fidelidade e jamais se mostraram hostis com este servo que as hospedou durante todo esse tempo.
No começo de minha parceria com as abelhas confesso que o medo cercava os meus dias aqui em Laguna; temia não só por mim, mas também pelo meu cachorro, o Pimenta. Com o tempo percebi que era possível essa familiaridade desde que um não atrapalhasse a vida do outro.
O tempo foi passando, a prole se multiplicando a cada dia. A produção estava dando certo, pois nos dias em que batia vento sul por aqui era possível sentir o aroma delicioso do mel que as meninas produziam.
Posso dizer que foram bons meses os que passamos juntos; juro que me doeu no coração vê-las dizimando assim, de uma forma tão violenta. E o pior de tudo é que nem tive a honra de conhecer a rainha, coitada, que ficou sem chance de tirar a coroa e morrer com dignidade.
Gente boa pra caramba: Bombeiros Justino, Damásio e Rogério, orgulho da Laguna
Os responsáveis pela penosa, porém necessária extinção foram os valorosos bombeiros Justino, Damásio e Rogério. O Justino, por sinal, ao ver o meu computador ligado nem quis saber muito das abelhas. Pediu pra procurar na internet uma música cantada pela dupla Osvaldir e Carlos Magrão. Qual a peça? “Vida de Bombeiro”, Faixa 13 do CD “Lua Bonita”.
Parecia um daqueles filmes bem doidos, tipo dois assassinos matando uma família inteira e um ouvindo música mantendo dois reféns sob sua “mira” (eu e o Pimenta). As abelhinhas agonizando com o álcool sobre elas, voando sem rumo e eu fazendo sala pro bombeiro escutando uma naba de música.
317 é cachorro na centena: Bombeiro Justino, a orca e o simpático Damásio. Meu fetiche realizado
Mas os caras foram super legais, como é peculiar nesses heróis que fazem parte do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina.Minhas amigas se foram de uma forma trágica. Melhor seria se tivessem se mudado antes, procurado outro lugar como algumas espécies o fazem. Esperei que isso pudesse acontecer. No fundo acho que sentiam que o fim delas estava marcado para esta noite do dia 30 de janeiro (22h13m começou o genocídio). Por incrível que pareça hoje, apesar do calor que fez aqui em Laguna, foi o dia em que as abelhinhas menos trabalharam. É sério, gente!
Vão em paz, minhas amigas. Não sei se existe céu para abelhas, mas o andar de baixo por certo não deve ser o meu destino. Não por este motivo. Foi um mal necessário.
E pra encerrar esse papo melancólico, antes elas do que eu!
Importante: A remoção/extinção de ninho de abelhas deve ser executado por pessoas qualificadas ou pelo Corpo de Bombeiros. Nunca tente fazer isso por sua própria conta pois o risco é muito grande. Mas para os curiosos eu vou dizer o que eles utlizaram e o que fizeram para exterminar os insetos: cinco litros de álcool (de carro ou de uso doméstico), pó de gafanhoto e uma bucha de pano (não fornecem o material). Injetam o álcool com uma bomba de pulverizar no local onde as abelhas estão alojadas, colocam o pó de gafanhoto (Neocid, coisas do tipo) e tapam a saída/entrada do ninho com a bucha de pano. Esse trabalho é feito somente no período noturno. Para cachopas de abelha ou marimbondo eu não sei como faz.
As abelhas que conseguem escapar ajojam em mais ou menos meia hora. É conveniente fechar portas e janelas durante a operação e não esboçar qualquer reação caso alguma delas passe zunindo pela sua frente.
O telefone do Corpo de Bombeiros da Laguna é 48-3647-0411. Se ligar daqui para o 193 vai dar lá em Braço do Norte. Coisa de doido, mas é a realidade.
Um comentário:
Voltei e gostei do que vi, apesar da emoçào verdadeira escondida atrás do bom-humor necessário. Solidário se algum protetor dos animais não entender sua posição e procurar a dona justa.
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