Jorge Serrão
O chefão Lula da Silva teme que suas conversas telefônicas tenham sido monitoradas. O presidente tem certeza de que foram grampeadas. Embora negado publicamente, o mesmo medinho é partilhado pelo chefe de gabinete presidencial, Gilberto Carvalho, e pelos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e José Múcio Monteiro (Relações Institucionais). O pavor aumentou quando ficou confirmado que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, estava no Palácio do Planalto quando sua conversa com o senador Desmóstenes Torres foi gravada. A ligação interceptada criminosamente foi transferida para o celular de Gilmar por sua secretária, que estava no STF.
A corte dos poderes em Brasília sempre foi palco de grampos realizados – e sempre negados – pela inteligência oficial e pela empresarial ou política. A atual onda de grampos tem alguns motivos políticos e econômicos muito fortes. O primeiro é a complicada negociação para se definir como ficará o caso da fusão entre a Oi e a Brasil Telecom. O mega negócio interessa ao banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, à cúpula do Palácio do Planalto e a uma grande empresa de telefonia controlada por banqueiros transnacionais.
O segundo caso complicado é o destino do ex-ministro Antonio Palocci Filho, em dois julgamentos no Supremo Tribunal Federal: o caso da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, e o escândalo do lixo em Ribeirão Preto. Os grampos, de todos os lados e para todos os gostos, querem monitorar tudo sobre estes três temas explosivos. Mas o caso Palocci é o que mais assusta ao Planalto. Se Palocci (o sucessor do falecido Celso Daniel) for punido, muita gente pode ser detonada em efeito cascata.
A negada crise institucional dos grampos, que se agrava por causa de disputas internas de poder no desgoverno Lula, demonstra que a burrice tomou contra a área de inteligência. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, faz pressões de bastidor para que fique enfraquecido, mas não caia ainda, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, General Jorge Armando Félix. Nelson Jobim foi decisivo no episódio que culminou no afastamento do delegado Paulo Lacerda do comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Jobim convenceu o chefão Lula de que a existência de uma maleta de espionagem, comprada pela agência, demonstrava a fragilidade de Lacerda. Agora, o alvo direto de Jobim é Félix, que já colocou o cargo à disposição. Lula só não quer detoná-lo agora para não parecer que agiu movido por pressão da oposição.
O General ficou de filme queimado desde as revelações da Operação Satyagraha. O chefão Lula não gostou de saber do desvio de função de agentes da Abin (que ajudaram a PF), sem uma intervenção de Félix. Os puxa-sacos do Planalto detestaram o recente depoimento do General na CPI dos Grampos. Félix teria passado a impressão a impressão de que não tinha, de fato, controle sobre a estrutura de inteligência. E não tem mesmo. Quem manda é a cúpula da Casa Civil. O desgoverno só não pode admitir isto publicamente. Agora, o jogo de intrigas se amplia quando integrantes da Abin afirmam que o Exército também tem equipamentos capazes de fazer escuta telefônica. Os equipamentos da Abin e do Exército seriam idênticos.
A CPI dos Grampos da Câmara aprovou ontem pedido de quebra de sigilo da Operação Satiagraha, em que foi preso o banqueiro Daniel Dantas, e da Chacal, que investigou suposta espionagem realizada pela empresa de investigação Kroll. Também foi aprovada a convocação do Ministro da Defesa, Nelson Jobim, do diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, e do diretor afastado da Abin, Paulo Lacerda. Hoje será convidado o presidente do STF, Gilmar Mendes. Jobim deverá explicar a informação de que a Abin comprou maletas para fazer grampos. Ontem José Milton Campana, diretor da Abin afastado com Lacerda, confirmou à CPI a aquisição, em 2006, de maleta capaz de fazer escutas ambientais num raio de até 100 m.
O diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a Segurança das Comunicações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Otávio Carlos Cunha da Silva, negou nesta quarta-feira, em depoimento à CPI do Grampo, que o aparelho usado pela agência para fazer rastreamentos (o Oscor 5000) seja a mesma maleta que a Polícia Federal utiliza para grampear conversas por meio de celulares. Cunha da Silva garantiu que o aparelho da Abin só pode ser usado para captar conversas transmitidas por microfones ou outros equipamentos de escuta ambiental. Pela lei, a Abin é proibida de fazer escutas. Blog Alerta Total
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