terça-feira, 20 de setembro de 2011

Os petistas e a Copa do Mundo: a incompetência como um método. Miriam Belchior deveria decretar toque de recolher para manter em casa os nativos

A Fifa decidiu que o Brasil seria sede da Copa do Mundo no dia 31 de outubro de 2007 — no mês que vem, portanto, faz quatro anos que a decisão foi tomada. Faltam 34 meses para o torneio. Já lá se foram 58,53% dos dias, e até agora não se fez quase nada, como é sabido. Vai se tentar espremer nos 42% de tempo restante o que não se realizou antes. É um vexame! A ministra Miriam Belchior, do Planejamento, tratou ontem do assunto em entrevista coletiva. Mais um pouco, atacaria de Luan Santana no salão: “Eu tou contando tudo/ e não tou nem ligando pro que vão dizer…” O governo está apaixonado… pela própria incompetência!

Acho que nunca se viu algo parecido na história da República. Se alguém aí tiver memória de evento similar, envie a historinha para o blog. Certa de que as tais obras de mobilidade não ficarão prontas a tempo, Miriam não se deu por achada e, com aquele método petista de arrumar soluções simples e erradas para problemas difíceis, ela já anunciou seu plano estratégico: decretar feriado no dias dos jogos para diminuir o número de pessoas nas ruas e a demanda por transporte público. É nessas horas que o PT lamenta não liderar um regime à moda Kim Jong-Il. Fico aqui pensando na tentação dessa gente: decretar toque de recolher para os nativos e só permitir a livre circulação de turistas.

Nessa toada, talvez fosse o caso de proibir a ida de brasileiros aos estádios… Que tal? Os tupiniquins assistem aos jogos em casa, no conforto do lar, comendo pipoca e tomando cerveja. É o que eu gloriosamente farei — mas sem a cerveja. O destilado de malte escocês é a fase superior da civilização nessa matéria, hehe… O fermentado pertence a uma etapa anterior da luta de classes… Adiante.

E essa nem foi a sua fala mais espantosa. O que realmente é chocante é ver uma ministra de estado — e ela é do Planejamento, entenderam?, não, sei lá, das “Obras Emergenciais — a afirmar que não tem a mais remota idéia do custo da Copa do Mundo. O país se meteu nessa aventura sem nem mesmo ter uma estimativa do quanto teria de desembolsar. Quatro anos depois, continua a não ter e joga a responsabilidade nas costas da Fifa, que teria feito exigências novas. Digamos que sim… E daí?

Se o governo brasileiro tivesse uma estimativa ao menos — custará “x” —, trabalharia com uma margem y% de acréscimo sobre o valor original. Mas quê!!! Tudo no mais absoluto escuro. E é essa gente, que trabalha com esse rigor, que exibe esse nível técnico de comprometimento com a eficiência, que quer enfiar goela abaixo do país o tal regime diferenciado de construção das obras da Copa do Mundo, em substituição à Lei de Licitações. É o que a ministra Gleisi Hoffmann, num rasgo de “Direito Criativo”, classificou de “legislação alternativa”, coisa que também nunca antes ninguém havia visto na história destepaiz…

E Dilma?
Dilma se aproveita um tanto do fato de que parcelas consideráveis da opinião pública estão com o saco cheio de Lula. Entre ele e ela, fica-se com aquela que parece um pouco mais discreta, que se comporta com mais serenidade, que demonstra mais apego ao decoro — até porque lhe falta intimidade com as ferramentas do populismo. Isso faz com que sua parcela pessoal de responsabilidade no descalabro das obras da Copa se dilua. Por que digo isso? Porque era ela a gerentona do governo Lula.  Só deixou a Casa Civil no dia 31 de março do ano passado. Dos 48 meses que o Brasil perdeu, em 29 ela era a tocadora de obras do agora antecessor e, em 9, é o próprio governo. Nesse particular, ela não recebe herança nenhuma: ajudou a fabricar o atraso.

Petistas tendem a reagir mal — é compreensível — quando se afirma que Lula e o partido deram uma sorte danada ao pegar este ciclo da economia mundial. Na gestão dos companheiros, os preços internacionais das commodities quadruplicaram, por exemplo. Aí está o colchão que amortece todas as suas incompetências. Não precisaram fazer muita coisa além de administrar mais do mesmo. A Copa do Mundo, de fato, teria sido uma excelente oportunidade de demonstrar capacidade de gestão; nesse caso, eles poderiam ter exibido o novo, seu lado original.

Eis aí. Em vez de mobilidade, feriado! Para tentar garantir que as obras essenciais ao menos estejam prontas — os estádios, por exemplo —, então só mesmo jogando no lixo as exigências da Lei de Licitações, pondo no lugar uma espécie de AI-5 licitatório. Sim, haverá a Copa do Mundo, a festa e coisa e tal. O tamanho da conta, alerta-nos Miriam Belchior, saberemos depois. Ora, sem planejamento, sem saber quanto se vai gastar, qualquer valor é aceitável, não é? Os ladrões da República já enfiam as mãos nos cofres públicos quando existem números. Imaginem como será neste mar da incerteza.

Será o paraíso dos larápios. Eu nem acho que o PT faz essa lambança de caso pensado. É incompetência mesmo. Mas, como de hábito, a incompetência de um petista logo vira um método que faz fortunas.

Por Reinaldo Azevedo


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