sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Opinião do Estadão: O palanque do São Francisco

Lula, a camarilha e a transposição do São Francisco: Politicagem e mentiras de toda ordem. Pra que TSE?

Arrimo da candidatura Dilma Rousseff, o presidente Lula retomou as excursões eleitorais com a ministra, interrompidas pelo tratamento a que ela se submetia. O objetivo imediato é reverter a sua estagnação nas recentes pesquisas de intenção de voto. A pré-candidata precisa aparecer nos telejornais não só ao lado de seu mentor, mas em situações que tenham "cheiro de povo", impregnadas do calor humano ausente dos eventos palacianos em Brasília. Isso parece explicar também as cenas de religiosidade explícita que ela vem protagonizando, em cultos evangélicos em São Paulo, na Igreja do Senhor do Bonfim, em Salvador, ou, ainda, na festa do Círio de Nazaré, em Belém.

Para o reinício da campanha, Lula inventou um giro de três dias para "vistoriar" as obras de transposição do Rio São Francisco - por sinal, o mais controvertido empreendimento do País -, o que lhe permitiu percorrer o território eleitoralmente seguro dos sertões de Minas, Bahia e Pernambuco, com pernoites em acampamentos, como dizem seus assessores, à maneira de Juscelino Kubitschek ao tempo da construção de Brasília. Entre uma "inspeção" e outra, uma confraternização e outra, um discurso e outro, tudo o que se prestar à humanização da figura da ministra deve ser aproveitado. Pouco importa o caráter postiço, quando não o ridículo, da oportunidade fabricada, como a fingida pescaria da dupla às margens do São Francisco, na região de Pirapora (cidade mineira excluída do tour por ter um prefeito do DEM).

Por atos e palavras, um carnaval de embromação. Em Buritizeiro, do outro lado do rio, Lula subiu a um palanque para dizer que "no nosso projeto original de fazer essa viagem não estava previsto a gente fazer comício", mas "fazer uma sinalização para o Brasil e para o mundo" (sic). Ao seu lado, além de Dilma, três ministros e o deputado Ciro Gomes, do PSB, ex-titular da Integração Nacional e candidato presidencial declarado. Lula, que não perde ocasião de afagá-lo - agora diz "adorar", tanto quanto adora Dilma -, quer vê-lo disputando o governo de São Paulo, para atacar, pela retaguarda, o tucano José Serra, como, de resto, já começou a fazer com a costumeira incontinência.

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