quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Opinião do Estadão: Cartão vermelho

Suplicy no Senado: Segundo Heráclito Fortes o cartão deve ser mostrado também para o presidente Lula

O golpe de cena do senador petista Eduardo Suplicy, de sacar de um cartão vermelho para dramatizar, da tribuna onde discursava, a sua posição pela renúncia de José Sarney à presidência da Casa, foi apenas a expressão mais vistosa da persistência de uma crise que os parceiros do cacique maranhense supunham superada quando, com a inestimável contribuição do presidente Lula, impediram na semana passada o desengavetamento de qualquer das 11 denúncias e representações contra Sarney no Conselho de Ética. A realidade é que o Senado travou e não se imagina como conseguirá se recuperar sem o afastamento do seu dirigente. A tropa de choque do governismo pode intimidar os adversários no grito. Lula pode impor a sua vontade aos senadores do seu partido desconfortáveis com a operação-abafa dos pedidos de investigação das malfeitorias de Sarney. Mas nem as milícias da maioria nem, muito menos, a descarada intromissão do Planalto para assegurar a impunidade do seu aliado podem deter o esvaecimento do Senado como instituição legislativa.

"A crise não está no Senado", resumiu com propriedade o tucano Sérgio Guerra, de Pernambuco. "É o Senado." Isso porque, embora o repúdio da opinião pública ao descalabro ético encarnado na figura do obsoleto oligarca não tenha levado multidões às ruas, os senadores continuam a receber mensagens de protesto em volume tal que não os deixa resvalar para a acomodação, na proverbial paz dos cemitérios. (Segundo uma recente pesquisa, 74% dos brasileiros querem que Sarney se vá.) Obrigados, portanto, a dar um mínimo de satisfação à sociedade, ou fazem como Suplicy - que simbolizou com o lance do cartão o fato de que "o País não suporta mais tantas denúncias sem respostas à altura", como afirmou - ou fazem como os 9 membros do PSDB e do DEM no desmoralizado Conselho de Ética, renunciando aos seus cargos. Ou fazem como os integrantes oposicionistas - e do PT - no colégio de líderes da Casa. Eles boicotaram na terça-feira a primeira reunião convocada por Sarney desde a farsa no Conselho para definir a pauta dos próximos trabalhos parlamentares.

Foto: Geraldo Magela: Agência Senado

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