É preciso tratar com serenidade esta questão dos cartões corporativos. Os dados concretos são:
1º. alguém do governo vazou as contas do ex-presidente Fernando Henrique e da primeira-dama, dona Rute. Estas contas estavam arquivadas na Casa Civil, sob a guarda da ministra Dilma Roussef.
2º. as despesas com cartões corporativos do atual presidente da República, da primeira-dama e dos familiares também ficam arquivadas na Casa Civil, sob a guarda da ministra Dilma Roussef.
Portanto, a ministra Dilma Roussef é a pessoa ideal para prestar os esclarecimentos necessários à CPI. Não se trata de ofender ninguém, não é necessário exacerbar paixões nem manter uma desnecessária queda de braço entre governo e oposição.
É importante ressaltar, no entanto, que, se o vazamento das contas do ex-presidente Fernando Henrique não causaram nenhum abalo à segurança nacional, é razoável imaginar que a divulgação das contas do presidente Lula, da primeira-dama, dona Marisa, e da família presidencial tampouco sejam explosivas para a segurança nacional.
É preciso distinguir entre culpa e responsabilidade. Não acredito que a ministra Dilma seja culpada pelo vazamento das contas do ex-presidente Fernando Henrique e da primeira-dama, dona Rute.
Mas a ministra Dilma é responsável, sim, pelo vazamento, porque é a ministra da Casa Civil, e tudo o que acontece na Casa Civil é sua responsabilidade.
Daí a importância dos esclarecimentos da ministra à CPI dos Cartões Corporativos.
O momento do vazamento das contas do ex-presidente Fernando Henrique não poderia ter sido pior: a CPI não decolava, a oposição estava a ponto de abandonar os trabalhos.
Alguém, de dentro da Casa Civil, querendo ajudar, pode ter botado tudo a perder. Exatamente como aconteceu no caso dos “aloprados” e da compra de um dossiê contra José Serra – foram ajudar e acabaram levando a eleição presidencial para o segundo turno.
A manobra foi tão desastrada, que já se especula que existe gente dentro do Palácio do Planalto disposta a detonar a possível candidatura da ministra Dilma à sucessão do presidente Lula.
No interesse do próprio governo e para preservar suas chances de concorrer em 2010, seria de todo recomendável que a ministra Dilma se oferecesse para ir à CPI prestar os esclarecimentos sobre o caso.
Ah, sim, passando antes por uma loja em Brasília para comprar uma boa figa de guiné e um poderoso galho de arruda.
Tem gente torcendo contra, ministra. E dentro do Palácio do Planalto.
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(*) Ucho Haddad Após décadas de jornalismo, a maior parte do tempo dedicado
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