Cláudio Prisco Paraíso: Renovação como imposição

Não bastassem as duas últimas derrotas do PP ao governo do Estado, quando foi atropelado pelo azarão Luiz Henrique em 2002 e pela tríplice aliança (PMDB-PSDB-PFL) quatro anos mais tarde, o partido ainda carece de unidade interna. De 2006 para cá, lideranças pepistas começaram a questionar a monopolização de Esperidião e Angela Amin, sustentando a necessidade de renovação, sob pena de a sigla fechar para balanço.

O projeto “Novos Tempos” foi concebido pela cúpula partidária de tal maneira que o casal Amin só tomou conhecimento quando já ganhava contornos irreversíveis. A convivência pública no PP não é ruim, mas é impressionante como alguns dirigentes acabaram se especializando em detoná-los nos bastidores, especialmente o ex-governador, já não queriam que saísse de candidato no último pleito.

O retrospecto eleitoral não é desalentador para Esperidião e Angela Amin, sobretudo ele, que se elegeu governador em duas oportunidades, mas a freqüência das candidaturas incomoda setores partidários, pelo não surgimento de novas alternativas majoritárias. No último quarto de década, enquanto ele foi candidato em quatro ocasiões, ela em uma.

Considerando sete eleições em 26 anos, a dupla só não encabeçou a chapa em 1986, quando o então PDS lançou o deputado Amílcar Gazaniga e, 1990, quando fechou com a candidatura de Vilson Kleinübing, à época abrigado no PFL, depois de uma passagem pelo sucedâneo da Arena.

Na visão de muitos dos pepistas que lideram a sigla, não existe a menor possibilidade de marido ou mulher novamente encabeçar a majoritária, sob pena do partido se inviabilizar pela falta de perspectiva. Por isso, que já circula abertamente a dobradinha Hugo Biehl-Joares Ponticelli para o governo. Vale lembrar que, em 2006, Biehl entrou no páreo e defendeu a tese da prévia. Na reta final, aceitou compor de vice.

Isolamento do casal Amin

Esse movimento dissidente deu o ar de sua graça quando Esperidião Amin ainda estava no governo, em 2001, período em que a Secretaria da Fazenda fez de tudo para derrubar o deputado João Alberto Pizzolatti, municiando até parlamentares da oposição de informações privilegiadas.

Segundo deputado federal mais votado do PP (com quase 90 mil votos), hoje Pizzolatti tem relacionamento protocolar com Amin. Quanto à deputada Angela, sequer se cumprimentam. Na terça-feira, ela assumiu a presidência da Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara, por indicação da bancada. Mas Pizzolatti não fez objeção, quando questionado pelo líder Mário Negromonte.

O raciocínio de Pizzolatti é de que as divergências paroquiais não devem ser transferidas para Brasília, até para não debilitar a bancada do PP, a qual deverá liderar em 2009, já que Negroponte tem tudo para suceder o senador Francisco Dornelles na presidência do partido.

Como líder na Câmara, João Pizzolatti pretende colocar o seu nome à disposição para buscar, em convenção partidária, uma indicação ao Senado, ainda mais se o PP e o PT acertarem os ponteiros, com cada um lançando apenas um candidato na corrida pelas duas vagas de senador.

A fidelidade do PP ao governo Lula desobstruiu os canais de Pizzolatti com líderes petistas, a começar pela senadora Ideli Salvatti, com quem tem conversado no cotidiano do Congresso. Se em 2010 Ideli concorrer ao governo, os três deputados federais são nomes naturais para o Senado: Cláudio Vignatti, Décio Lima e Carlito Merss. Do trio, apenas o primeiro não participará do embate municipal de outubro. Décio e Carlito estão confirmadíssimos em Blumenau e Joinville.

Reação em Florianópolis

Esperidião e Angela Amin estão na iminência de pregar uma peça. Segundo o primogênito João Antônio, os pais não vão ser candidatos à Prefeitura de Florianópolis, em outubro. Pré-candidato a vereador, o filho confidenciou que a decisão doméstica já havia sido tomada, bastando apenas torná-la pública.

Consumado esse ato, o casal deixa o partido sem pai nem mãe na Capital, até porque não existe nenhum outro nome capaz de enfrentar o potencial eleitoral de Dário Berger. Por mais que o prefeito tenha acumulado um brutal desgaste político com a Operação Moeda Verde, que chegou a indiciá-lo, tem a sua disposição quatro máquinas consideráveis: Prefeitura, governo do Estado, PMDB e as próprias empresas da família.

O casal teria uma desculpa plausível: a presença do filho na corrida à Câmara, o que poderia criar dificuldades ao longo da campanha, em relação aos demais candidatos do partido ou coligação. Para não serem acusados de estar privilegiando João Antônio, não disputariam, mas se engajaria no processo.

Essa atitude de Esperidião e Angela Amin também poderia ser interpretada como uma reação aos movimentos de setores partidários, que não estariam a hostilizá-los, mas claramente interessados em alijá-los de composições majoritárias. Se nenhum dos dois enfrentar Berger em outubro, o quadro partidário acabaria inflacionado em 2010. E o PP ainda deixaria de ter reais perspectivas de vitória na Capital.

A partir do momento em que o partido não alimenta grande número de favoritos em outubro, sobretudo nos maiores municípios, o casal Amin fora do páreo em Florianópolis serviria para debilitar a sigla ainda mais.

Se Esperidião e Angela Amin vão conseguir suportar a pressão por candidatura em Florianópolis, numa eleição em que o governador Luiz Henrique vai mergulhar de cabeça, especialmente depois da ameaça de cassação do mandato pelo TSE, em ação movida pelo PP, é outra coisa!

Cláudio Prisco Paraíso: Renovação como imposição