- Não sonhei com isso. Quando pedi para ser presidente do Senado, pensei que iria encontrar um Senado amadurecido para reformas e mudanças, para se reafirmar como Poder. Mas poder não se afirma por gritaria. Ninguém ganha no grito - disse o presidente Garibaldi Alves por volta da 1h30 da madrugada desta quarta-feira.
O desabafo de Garibaldi veio à tona quando o impasse entre governo e oposição em torno da votação das medidas provisórias que obstruíam a pauta do Senado e que impediam a análise do projeto de lei de conversão que criou a TV Brasil (PLV 2/08) atingiu seu ponto mais crítico. A medida provisória 398/07, que deu origem ao PLV e criou a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), venceria no próximo dia 21.
Pressionado pela oposição, que chegou a questionar se Garibaldi seria o "presidente do Congresso do partido do presidente Lula" - palavras do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM) -, Garibaldi afirmou enfaticamente que não tem compromisso nem com o governo nem com a oposição, mas com a Nação.
- Não tenho temor daqueles que se dizem donos da verdade. Donos do tempo e da hora das decisões - disse.
O presidente do Senado teceu críticas ao governo. Ele lembrou que já na abertura dos trabalhos legislativos, em fevereiro deste ano, criticou o Executivo pelo uso abusivo e desregrado do recurso da medida provisória.
- Este governo está concorrendo para a queda das nossas instituições. Merece resposta, mas não essa resposta que Vossas Excelências estão dando - frisou, pouco antes de os parlamentares da oposição deixarem o Plenário em protesto após serem rejeitados, pelo líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), os pressupostos constitucionais de relevância e urgência de uma MP que antecedia a votação do PLV da TV pública.
Na avaliação de Garibaldi, a resposta que o Congresso deve dar ao governo é a apreciação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que estabelece novas regras para a tramitação das MPs.
- Quem diz isso não é um presidente auxiliar do governo - pontuou.
Emocionado, Garibaldi declarou que foi levado pelas circunstâncias a ser presidente do Senado, mas que, incumbido dessa função, não decepcionaria nem abriria mão de suas convicções para macular uma carreira política consagrada.
- Não interessa o que a oposição possa pensar ou o governo. Vou conduzir o Senado com independência e retidão - disse.
Sob o olhar atento dos senadores, o presidente frisou que jamais se dirá dele que foi condescendente ou que "baixou a cabeça", mas apenas que "sonhou com um Congresso melhor".
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(*) Ucho Haddad Após décadas de jornalismo, a maior parte do tempo dedicado
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