segunda-feira, 7 de abril de 2008

Blog do Noblat: É o dossiê, estúpido!

De repente, não mais do que de repente, voltou a circular com certo estardalhaço a idéia do terceiro mandato presidencial consecutivo – desta vez estimulada por entrevistas concedidas pelo vice-presidente da República José Alencar, e o prefeito do Recife João Paulo Lima (PT), além de inconfidências soprados por informantes anônimos apontados como “auxiliares de Lula”. Ou pessoas próximas a ele.

O que é isso? Por que novamente essa história de "Deixa o homem trabalhar?”

No momento, a discussão em torno do terceiro mandato é uma manobra urdida no Palácio do Planalto para dividir a atenção da mídia concentrada no caso do dossiê sobre despesas sigilosas do governo anterior. Mais adiante, se um dia o homem acordar invocado, poderá servir para deflagrar a campanha “Lula de novo, pelo bem do povo”.

Faz sentido. Afinal, o PT perdeu seus melhores candidatos à sucessão de Lula – José Dirceu e Antonio Palocci, abatidos no rastro de escândalos. Outro escândalo, agora, ameaça Dilma Rousseff, “laranja” de Lula 2010 ou Lula 2014.

Você consegue imaginar o PT apoiando candidato de outro partido a presidente da República? Eu não. Nem Lula.

Os ditos movimentos sociais estão felizes demais com o governo. Por que tolerariam vê-lo trocado por outro que lhes dificulte o acesso a verbas oficiais?

Organizações não governamentais nunca mamaram tanto nas tetas do governo. O Brasil deve ser o único país onde organizações não governamentais se tornaram... O quê? Governamentais.

O que é que tem? Não temos organizações filantrópicas com fins lucrativos?

Esse mundão de gente só espera um sinal para pegar bandeiras e megafones e sair às ruas em defesa do que Lula repele com a mesma convicção férrea demonstrada por Fernando Henrique ao repelir a proposta do segundo mandato. Quanto ao Congresso...

Bem, não contem com ele para se opor a um presidente campeão de popularidade. Nem a milhões de pessoas penduradas em prestações, mas satisfeitas. Nem a empresários incapazes de atender à demanda do mercado aquecido. Nem a banqueiros que contabilizam lucros fabulosos.

O governo tem folgada maioria de votos na Câmara dos Deputados para aprovar o que quiser – até mesmo uma proposta de emenda à Constituição que permita ao povo responder em plebiscito se o terceiro mandato é uma boa.

Ensinou o deputado Ulysses Guimarães, presidente do PMDB e da Assembléia Nacional Constituinte de 1988, que se você tem maioria no Congresso só não faz homem virar mulher nem mulher virar homem - o resto, faz.

No Senado, o governo Lula engorda sua bancada de senadores sem voto – suplentes que assumem por ora ou em definitivo a vaga dos titulares. De um total de 81 senadores, 16 (quase 20%) são suplentes.

Em menos de um mês, o governo ganhou dois senadores. Para cuidar da saúde, saiu de cena Maria do Carmo Alves (DEM-SE). É mãe de empresário enrolado com a Justiça. O suplente dela é do PSC.

Com a saúde abalada, escafedeu-se Cícero Lucena (PSDB-PB), preso em 2005 sob a acusação de ter bancado licitações viciadas quando era prefeito de João Pessoa. O suplente dele é do PTB.

PSC e PTB fazem parte da coligação de 14 partidos que apóiam Lula.

Restará o Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar o terceiro mandato ou a reeleição sem limites, golpe tentado sem sucesso por Hugo Chávez na Venezuela.

É fato que a maioria dos ministros do STF foi nomeada por Lula. Mas também é fato que fatia expressiva deles não disfarça sua repulsa a mudança de tal porte na Constituição.

(Êpa! Caí na armadilha do governo e passei ao largo do caso do dossiê ou do banco de dados da Dilma. Haverá novas oportunidades.)
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